Cigarro
Talvez eu devesse falar de teatro. Mas pensando bem, não tenho domínio sobre o assunto. Talvez eu devesse falar de Deus, mas o assunto é tão complexo que pareceria banal, e cairia num campo pobre e subjetivo.
Então, vou falar de mim, só. Não, não. Besteira!
Vou falar sobre o cigarro. Neste momento, tem três apagados em meu cinzeiro sujo, e um aceso em meus lábios. Esses papéis enrolados e cancerígenos proporcionam certo prazer, apesar de seu cheiro horrível. A vantagem principal é que ele lhe ajuda a escapar da solidão, creio. Quando você vai dar uma volta no quarteirão, acende um. Antes de encontrar um amigo, outro. Ao esperar alguém que se atrasou, mais alguns. Quando está sozinho em casa e ninguém lhe escuta, acende vários.
Nunca saberemos se vale a pena. Para compensar a dúvida, criamos métodos de acompanhamento. Nós, fumantes, gostamos de café, cerveja, ou álcool em geral. Fumamos depois do almoço, do jantar. Alguns acendem para utilizar o banheiro. O ponto de ônibus é outro lugar de fumaça coletiva. Já repararam quantas bitucas jogadas na sarjeta? Eu já. São muitas. Mais uma vez é a tal solidão buscando um parceiro para distrair o tempo.
Entender os propósitos é impossível, praticamente. Hoje enxergo o cigarro como um amigo, que depois me fará mal. Mas qual amigo depois de certo tempo não nos fará algum mal? É quase uma questão ética.
Neste momento tenho cigarros no maço. Penso em como utilizá-los da melhor forma. Bem, seria injusto não acender um bem agora, já que dedico a eles este pequeno texto. Pronto! Está aceso. No fogão, já que meus fósforos acabaram. Dei um trago profundo e prazeroso, e assim finalizo.
Também existem os antidepressivos, mas esta já é uma outra estória.
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