21/01/2010

Enquanto Houver Estrelas

Enquanto Houver Estrelas


Eu, que caminho sem destino,
Que nunca sei o que pensar,
Tenho na velha mala a absurda certeza
De não mais ter como opção o regresso.

Eu, que venço sem merecer,
Que às vezes penso em desistir,
Visito o frio inferno agridoce
Sem lágrimas escorrendo pela face.

Eu, que peco pela inconstância,
Que constantemente perco a calma,
Deixo dominar-me com desdém
Sem lhes dar razão.

Eu, que não quis crescer,
Que tive roubada a própria escolha,
Tento somente não extinguir
O pouco que me parece restar.

Eu, que abuso da hipocrisia,
Que finjo todos os dias,
Com sorrisos brilhantes e de mentira
Faço o mundo se ajoelhar.

Eu, que desfaço e refaço sonhos,
Que abandono o apego pela vida,
Deixo para trás as frágeis palavras
Apenas para possuir algumas estrelas.


17/01/2010

Entre o Louco e o Cadáver



Entre o Louco e o Cadáver


Hoje vamos nos encontrar no topo daquele prédio.
Vou me jogar,
Vou te empurrar,
Ou vamos nos abraçar e pular.
Quantos vão chorar?

O menino louco procura um hospital,
Quer se curar.
A menina feia faz muitos planos,
Quer se casar.
Eu apenas escrevo com meu próprio sangue,
Quero entender.

Celas vazias,
Lendas reais,
Letras escarlates,
Espectros no portão.
Devo sair?
Aonde ir?
Ao jardim noturno conversar com o dicionário
Ou ao planetário ver o que há de novo no Espaço?

Noites apocalípticas.
Enquanto o asfalto molhado transpira lamentações,
Dionísio nos aguarda na entrada de seu templo.

Saberemos o que fazer?


11/01/2010

Além das Nuvens



Além das Nuvens


Folhas de papel, de outono,
Início calculadamente atrasado.
Fim do dia, da noite,
O início de ambos.

Meus olhos vermelhos e cansados
Querem justamente o repouso.
Meus pés relutam em dançar
Ao som mudo da valsa flutuante.

O ruído repetitivo do relógio na parede.

Subo até o sino da igreja
E pulo para voar sem deus.
Acordo de novo,
Há novos sinais.

Ao meio-dia, sinto uma triste alegria,
À meia-noite, sinto-me depressivamente feliz.

Encontro-me encontrando-a,
Assusto-me assustando-a,
Asfixio-me, enveneno-me.
É assim que temos planejado.

Intenções, propósitos e razões,
Cores vibrantes e tons transparentes.
Motivos absurdamente eficazes,
Chuva e transformações.

O inverso também é real,
Ou até um pouco mais.

O sono é a morte,
O sonho é o que somos sem controle.
O despertar é a morte,
E o resto ainda desconhecemos.

Tememos o invisível
E cremos no que há além das nuvens.


08/01/2010

Retrato em Preto e Branco



Retrato em Preto e Branco




Neste quarto de duas mil imagens,
Falta-me uma.
Tantas figuras quebradas
Fora de seus errados lugares.

Nesta sala de sete mil palavras,
Faltam-me duas.
Quantos sussurros ainda terei que ouvir
Até adoecer.

Você. Um sorriso. Eu te amo?

05/01/2010

A Vida Secreta De Romeu



A Vida Secreta de Romeu


Ontem Romeu sorriu
Perdido num aeroporto,
Com flores brancas nas mãos.

Ontem Romeu chorou
Com o adeus sem dó,
Na esquina vadia.

Ontem Romeu cansou
De esperar milagres,
E assistiu uma ópera triste.

Ontem Romeu cantou
O rock triste do cantor morto,
E rezou.

Ontem Romeu escreveu
Um bilhete sagrado:
"O amor é eterno".

Hoje Romeu morreu,
Envenenado e sozinho.

03/01/2010

Infarto

Infarto

Recluso, inerte, maldito intruso sou.
Em qualquer caminho, perco-te, perco-a,
Antes mesmo de percorrê-la.

Regresso, pálido
E com olhos cerrados,
Ao princípio.

Nas mãos sem gestos,
O absurdo segredo é revelado:
Há dois dias e três noites
Findava de meu coração
Os derrotados pulsos.

Isto é Sobre um Céu de Desenho Animado

Isto É Sobre Um Céu de Desenho Animado Ela dorme em seda rosa E também em grama verde. E ela sabe tão pouco sobre o mundo Que at...