25/12/2009

Mais Uma Manhã





Mais Uma Manhã


Era um momento bem delicado. Ralph sentia-se extremamente cansado naquela manhã, devido à noite mal dormida e, principalmente, às constantes lutas sangrentas travadas com seus próprios instintos. Seus olhos teimavam em se fechar e seu coração batia num ritmo estranho. Sono, depressão e uma sensação prazerosa de não-dor dominavam seu corpo.
Ainda eram onze da manhã e ele já havia conversado com quase vinte pessoas. Era realmente uma média impressionante, principalmente se levarmos em consideração que ele nem queria ter saído da cama.
Comeu um pedaço de bolo e fumou lentamente um cigarro de sua marca preferida. Ele achava que o cheiro era mais suportável. Enquanto tentava relaxar seu cérebro inquieto, pensou seriamente em tirar um cochilo no pequeno banheiro do recinto. Quando estava quase decidido, Antonia entrou na copa. Ele olhou para ela, que tinha um semblante engraçado e sofrido, e disse sem pensar:
- Então, acho que vou me casar.
Ela fez cara de descaso e surpresa, mas foi educada:
- Legal, legal. Com quem? Com a Beatriz? Ou com Ana?
Ele pensou um pouco e resmungou, quase para si mesmo:
- Não sei ainda. Não sei mesmo...
Neste momento ele se lembrou que Antônia já havia sido casada e separou-se por ter apanhado do marido algumas vezes. Nada muito grave, apenas uns tapas.
          Antônia saiu da copa, voltando para seus afazeres, e Ralph permaneceu ali, imóvel, esperando o sono voltar. Quando estava quase dormindo novamente, mesmo sentado numa cadeira desconfortável, Clemente entrou fazendo barulho. Sorrindo numa altura insuportável e batendo palmas ritmicamente, disse em voz alta, desproporcional à distância que se encontravam:
- Cara, o que você está fazendo? Dá um cigarro?! Vou comprar e te devolvo mais tarde.
Ralph não conseguiu esconder seu descontentamento com a situação, mas achou justo doar um cigarro. Lentamente tirou o maço amassado do bolso e disse:
Clemente, vá se foder! E sorriu, pra si mesmo.
Praticamente sem opções visíveis ou viáveis, ele se encaminhou para o banheirinho, trancou a porta, se masturbou e dormiu, por oito horas, apenas para não ser incomodado.



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