Nina e o Devorador de Sonhos
Nina, a menina dos cabelos dourados, morava numa pequena ilha calma e incandescente. Ela nasceu e cresceu esperando que um milagre, ou algo tipo, a levasse dali.
Os anos passavam, maldosos, e dias após dia sua esperança era assassinada. Algo em seu corpo era esmigalhado a cada pôr do sol. Tudo era odiosamente igual e o máximo que ela conseguia fazer era olhar, timidamente, para o horizonte.
Ela já tinha vinte e três, e aparentava um pouco mais, quando o vento de uma manhã cinza e fria lhe trouxe seu destino, num pequeno e velho barco de pescador. Um homem de olhar estranho e fala calma aportou na ilha, e Nina sentiu que sua vida mudaria, à partir daquele dia.
Inquieto o dia se arrastou e a noite caiu, silenciosa como sempre. Nina adormeceu e foi tomada por um sonho diferente de todos que já tivera. Era a revelação de seu caminho.
Antes mesmo que o sol tocasse a superfície da ilha ela correu para a pequena pousada onde o estranho homem havia passado a noite, e contou-lhe sobre seu sonho. A lua havia lhe dito, profeticamente, que aquele homem realizaria seu mais profundo desejo, e que eles deveriam partir o quanto antes, rumo à uma grande cidade, localizada à oeste da ilha. Ele ouviu tudo calmamente e, sem demonstrar espanto ou curiosidade, apenas concordou. Disse em poucas palavras que partiriam, estranhamente, naquela noite.
Ela sonhava, ele planejava.
Nina arrumou as poucas coisas que possuía e despediu-se de todos. Dizia, alegremente, que enfim havia chegado a hora de conhecer o mundo que existia longe dali.
Três horas depois de partirem, sobre o pequeno barco, sobre o mar dormente, o estranho homem tirou sua máscara de pele humana e, com sua habitual brutalidade, devorou Nina com seus dentes afiados.
Ele era o sábio devorador de sonhos, aquele que sabe o que todos sonham e, de uma maneira bastante peculiar, adora realizar desejos.
Apenas a lua foi testemunha.